Por Eneida Moraes Miranda Zahler
Tive uma infância privilegiada e muito feliz, uma vez que podia brincar na rua e morava em frente a um belo bosque no Setor Oeste de Goiânia, GO.
O bosque, hoje chamado Bosque dos Buritis, na época, lá pela década de 1960, era praticamente intocado.
Ali era um mundo imenso para mim. Bem em frente à casa onde eu morava, conheci várias espécies de árvores, pássaros, arbustos, flores, ervas, samambaias, trepadeiras, cipós, epífitas, pedras, musgos, liquens, cogumelos, insetos, lindas borboletas, um córrego com águas cristalinas e uma lagoa com rãs e sapos que eu tanto temia. Estas eram criaturas que me faziam sair em disparada quando ouvia o seu coaxar.
Olhava a lagoa de longe, pois era bonita, havia até plantas aquáticas floridas que, naquela idade, para mim era uma coisa fabulosa. Entretanto, devido aos sapos e rãs, criaturas de olhos esbugalhados e que podiam saltar de repente, eu não me atrevia a chegar em suas margens.
Sempre observava a beleza dos raios do sol diafanamente descendo pela copa das árvores mais altas, chegando até o chão coberto de raízes, folhas secas, pedras, musgos e se deslocando até o córrego.
No córrego, havia uma pinguela estreita que eu passava com um certo receio de cair, mas foi, com certeza, um excelente treino para o equilíbrio do corpo. Se caísse, talvez o machucado não seria muito sério porque não era tão alta.
Havia também um ingazeiro com frutos deliciosos e paineiras, das quais, certa vez ajudei a colher a paina com a qual foram preenchidos pequenos travesseiros.
Hoje, o Bosque dos Buritis está urbanizado. É cercado para proteção contra invasores, vândalos e malfeitores. Tem trilhas calçadas e plantas que não são nativas.
Ainda é um parque muito bonito, sem dúvida. Mas, ter tido a oportunidade de conhecê-lo quase intacto foi um imenso privilégio, pois era muito mais bonito e emocionante.
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